Sobre mim

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Contando Potoca


Minha mãe nasceu na Paraíba, em um sítio chamado "Cachorro Morto",
minha avó materna morreu do parto e ela sofreu por muito tempo com isso, não queria comemorar os aniversários.
Quando fui me entendendo por gente fui acabando com isso, "vamos comemorar o aniversário sim senhora", e ela, aos
poucos foi deixando de sofrer (pelo menos aparentemente) tanto por causa disso.

Minha mãe foi criada até os sete anos por minha bisavó Mãe Ana, quando minha bisavó morreu, minha mãe passou a morar com minha avó paterna, a qual ela cuidou até quando ela morreu. Ela contou sempre pra gente que tinha muita vontade de estudar,
mas as oportunidades foram poucas, ela precisava fazer os serviços da casa da "Alagoa de Cima".

Com tudo isso, minha mãe poderia ter ficado uma pessoa muito rude,
mas não ficou, minha mãe é um doce, aonde ela chega as pessoas derretem por ela, em todos os lugares que moramos durante a nossa vida e até hoje, os vizinhos eram apaixonados por ela, não só os vizinhos, como as empregadas, porteiros, zeladores, o prédio inteiro.

Quando éramos crianças e chegávamos do colégio ou da rua com algum "nome feio" ou palavra ou expressão que ela não gostava,
ela falava pra gente: "por que não aprendem o que eu falo ao invés de aprender o que ouvem aí fora?".
Bom, aí a gente ficava prestando atenção no que ela dizia, e aí vão algumas pérolas:

pessoa "frocadinha" - pessoa nervosa
pessoa "labrogeira" - pessoa desorganizada e que faz as coisas de qualquer jeito.
casal "amancebado" - casal que vive junto
"casar na igrejinha verde" - viver maritalmente
contando muita "potoca" - muita vantagem
pessoa "potoqueira" - que conta muita vantagem
"precundía" - tristeza
"que nem vintém na bacia do cego" - alegre
"mundiça" - bagunça, pessoa bagunceira ou mal educada.

E por aí vai, minha mãe é uma figura ...