Sobre mim

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

pesadelo



Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento ... a tempo ... eu acordei com medo e procurei no escuro alguém com seu carinho e lembrei de um tempo ... é que o passado me traz uma lembrança do tempo que eu era criança ... e o medo era motivo de choro ... desculpa pra um abraço ou consolo ...

Hoje eu tive um pesadelo mas não chorei nem reclamei abrigo ... do escuro eu via um infinito sem presente, passado ou futuro ....

Senti um abraço forte ... já não era medo ... era uma coisa sua que ficou em mim ... que não tem fim ...

De repente a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa ... morna e ingênua que vai ficando no caminho ... que é escuro e frio mas também bonito ... porque é iluminado ... pela beleza do aconteceu há minutos atrás ...



Cazuza, em Poema


quinta-feira, 11 de agosto de 2011




Quem somos nós para falar de consequências,
se da fila interminável delas que incessantemente vêm caminhando na nossa direção
apenas podemos ver a primeira.

Significa isso que algo pode acontecer ainda,
algo não, tudo ...

Só porque vivemos absortos é que não reparamos
que o que vai nos acontecendo
deixa intacto, em cada momento,
o que nos pode acontecer.

Quer isso dizer que o que pode acontecer se vai regenerando constantemente.
Não só se regenera como se multiplica,
basta que comparemos dois dias seguidos ...



José Saramago, em Todos os Nomes

Memórias de Adriano





Estou lendo pela segunda vez o livro Memórias de Adriano.
Bom demais!

vamos lá com algumas pérolas:



Alguns aspectos de minha vida já se assemelham às salas desguarnecidas de um vasto palácio
que o proprietário empobrecido desiste de ocupar por inteiro.


A vida era para mim como o cavalo

a cujos movimentos só nos unimos depois de havê-lo adestrado com perfeição.



O prazer de tentar o impossível

em matéria de salto de obstáculos

era intenso demais

para que eu lamentasse um ombro deslocado

ou uma costela partida.



Que é nossa insônia senão
a obstinação maníaca da nossa inteligência em manufaturar pensamentos
e formar uma série de raciocínios, silogismos e definições que lhe são próprios?

Ou, ainda,

a recusa em abdicar em favor da

divina estupidez dos olhos fechados
ou da sensata loucura dos sonhos?



De todas as venturas que lentamente me abandonam, o sono é uma das mais preciosas.


O homem que não dorme - e tenho tido, desde alguns meses,
freqüentes ocasiões de constatá-lo em mim mesmo -
recusa-se mais ou menos conscientemente a confiar no fluxo das coisas.



Propositadamente, jamais olhei dormir aqueles a quem amava:
descansavam de mim, bem sei;
sei também que de mim se escapavam.



Marguerite Youcenar

em Memórias de Adriano