Estou lendo pela segunda vez o livro Memórias de Adriano.
Bom demais!
vamos lá com algumas pérolas:
Alguns aspectos de minha vida já se assemelham às salas desguarnecidas de um vasto palácio
que o proprietário empobrecido desiste de ocupar por inteiro.
A vida era para mim como o cavalo
a cujos movimentos só nos unimos depois de havê-lo adestrado com perfeição.
O prazer de tentar o impossível
em matéria de salto de obstáculos
era intenso demais
para que eu lamentasse um ombro deslocado
ou uma costela partida.
Que é nossa insônia senão
a obstinação maníaca da nossa inteligência em manufaturar pensamentos
e formar uma série de raciocínios, silogismos e definições que lhe são próprios?
Ou, ainda,
a recusa em abdicar em favor da
divina estupidez dos olhos fechados
ou da sensata loucura dos sonhos?
De todas as venturas que lentamente me abandonam, o sono é uma das mais preciosas.
O homem que não dorme - e tenho tido, desde alguns meses,
freqüentes ocasiões de constatá-lo em mim mesmo -
recusa-se mais ou menos conscientemente a confiar no fluxo das coisas.
Propositadamente, jamais olhei dormir aqueles a quem amava:
descansavam de mim, bem sei;
sei também que de mim se escapavam.
Marguerite Youcenar
em Memórias de Adriano
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