Sobre mim

domingo, 12 de agosto de 2007

Rumo a Brasília


Fizemos a viagem de ônibus para Brasília. Era 1968 (o ano que não acabou), mês de julho, aliás perdemos um ano na escola por causa disso.




Naquela época, como até hoje, eu já gostava da cor laranja,tudo meu tinha que ser "cor-de-abóbora".


Nos livros que minha mãe comprava pra gente pintar o lápis laranja era o mais usado. Aliás pintar, ai gente, eu adorava pintar ... e como minha mãe pintava bem !!! nossa, quando ela pintava uma coisa era perfeito, e aquela perfeição dos traços me fascinava, mas, eu não sei porque, ela não gostava que a gente elogiasse, se eu dizia "mãe que lindo", ela não gostava, desconversava, sumia.


Mas eu acho que foi dali que nasceu o meu gosto para as artes. Nada na vida da gente vem do nada, tem que ter uma explicação. Esse meu gosto para arte eu sei que veio muito de mim mesma porque muito dessas coisas estão adormecidas dentro de nós desde que nascemos, mas eu acho que teve um toque, ainda que desproposital, da minha mãe.


Minha mãe tinha lá os traumas dela que eu não conhecia e hoje conheço um pouco, como ela não lidava bem com eles ela não se soltava, bordava muito bem mas nunca quis me ensinar: "menina, vai estudar!", naquela época eu não entendia bem isso, mas agora eu consigo ler um pouquinho da alma da minha mãe e sinto que simplesmente ela prendeu a artista. Não deu asas, prendeu.


Ela tinha um álbum com bordados cada um mais lindo que o outro, que eu adorava folhear, pois não há de ver que ela deu fim a esse álbum? jogou fora, pode ????!!!




Então, a viagem ... me lembro direitinho da roupa que eu usei naquela viagem.Calça de veludo laranja e uma bota laranja com aquelas penugens, sabe? pense !!!
pois então, eu me achei assim tão linda que nunca me esqueci daquela roupa.
A bota foi meu tio Zé que me deu de presente e a calça foi minha mãe que fez.




O ônibus não chegava nunca, para quem nunca tinha feito uma viagem maior, parecia a eternidade. Até que meu pai falou: "já estamos em Brasília." Eu e meu irmão corremos pra janela e só tinha mato, mato e mais mato, e mais mato. Meu irmão virou pro meu pai em tom de cobrança: "cadê os apartamentos"? Meus pais se entreolharam e riram baixinho, nunca nos esquecemos disso.




O apartamento até que teve, mas as demais coisas que meu pai prometeu sobre o paraíso que a gente ia viver em Brasília, rapaaaz !!! Meu irmão não sabia que essa era apenas a primeira das muitas cobranças que meu pai ainda ia ouvir sobre a tal Brasília ...




Até hoje adoro a cor laranja, uso em meus projetos de decoração sempre que meus clientes também gostam. É claro que não dá pra pintar um ambiente inteiro nem usar em grandes extensões porque o laranja é uma cor quente, mas em pequenos detalhes fica espetacular. Adoro a logomarca do Itaú. Na minha casa todos os utensílios da cozinha e pequenos adornos da casa a gente foi escolhendo laranja, se tiver laranja não compramos outra cor, todos os amados da minha vida já sabem: é o laranja.




Mais uma coisa sobre o meu gosto pelas artes. O meu pai. Pois é ... o meu pai. Meu pai tinha um ar sempre ausente, parecia estar sempre em outro mundo, um mundo só dele, e até conversava sozinho, fazia gestos, dava bronca, e a gente ficava só observando aquilo, até quando ele sentava na mesa pra almoçar com a gente era com o pensamento longe. Hoje quando vejo Lucas distraído pela casa penso que isso tem a ver com o jeito do avô. Até hoje meu pai é assim, acabamos acostumando. Mas sim, as artes ... o que eu queria dizer é que me lembro que meu pai fazia uns rabiscos abstratos em tudo que era pedacinho de papel que ele tinha pela frente, com caneta, uns quadrados dentro do outro, ligados, hoje eu acho que aquilo era pura arte, arte do inconsciente, mas naquela época eu não sabia o que era, mas me embevecia, eu achava aquilo lindo demais.


Outra coisa que ele fazia e que eu adorava: bonecos com a casca de melancia, ia esculpindo a casca da melancia com a faca e fazia bonecos engraçados, eu a-d-o-r-a-v-a !!!


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